quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Estranha flor azul

Paro e aos poucos tudo vai saindo estou nua na frente do espelho e ele não me diz nada escuto uma música que nunca ouvi antes não sei por que vou sem ver como na música. O computador atrapalha os pensamentos não são mais tão fluidos mas eles fluíram em certo momento e nem sei pra onde nem o porquê. Chupo um drops sabor limão sinto o gosto artificial de algo que deveria ser mas não é apenas ácido e estranho . Volto para o espelho e ainda não vejo nada procuro não há nada pra ser. Paro. Escuto o som. Um tambor me prende trás o ritmo que sinto por dentro é triste e igual. O frio começa a subir pelos braços os pêlos sobem mas é um frio de dentro e não do tempo um frio que dói as costas um frio de vazio de ingratidão. Olho tudo e a música repete. No começo parece um clássico que não sei bem qual de algum balé. Alias, não sou boa em lembrar as coisas me esqueço dos cheiros e sabores que também não sinto bem percebo que também não vejo bem me vejo agora deficiente. Cinco sentidos errados difíceis e lentos o sexto também não é bom agora começo a ver. Que paradoxo os sentidos começam a se abrir. De repente tudo pára.

Estou perdida de novo sem saber onde estou e onde estava o frio volta só agora percebo que ele tinha sumido agora que ele voltou. Tem uma coceira também no ombro mas não é uma coceira de coçar ela só incomoda e dá um calafrio às vezes. A música começa a repetir muito e fica mais alta as costas doem e é ruim quando o cabelo roça a nuca. De repente fiquei com medo não sei de que mas fiquei com medo e com o silêncio fica pior. A música recomeça. Tem nome de flor como a flor azul de mais cedo que era de mentira coisa que só percebi quando olhei bem de perto na verdade todas as flores e plantas eram de mentira mas só se vê de perto. Percebo que o frio volta quando as mãos param mas elas têm vontade própria param e eu não sei como fazê-las recomeçar e é aí que elas recomeçam intensamente e param. E recomeçam. Sinto cheio de cigarro dos dedos é um cheiro ruim que mal sinto paro pra ouvir a musica. Não entendo nada, mas sei que mais tarde vou tentar descobrir do que ela falava.

Tenho vontade de parar. Vou parando e me lembro que os pêlos me incomodam também. Assim como umas coisas na cabeça perto do cabelo que pegam fogo e parecem sair pelos poros por onde saem os fios. Parou de novo. Não sei se quero que recomece. Vou ficar quieta um tempo. É quando vejo aquele sorriso que parece não mudar nada. Mais do que um sorriso eu preciso. E reorganizo tudo pra tentar encontrar o sentido perdido de todo o resto gasto.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011


“Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo; repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada.”

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar
(Cartola)

sábado, 20 de agosto de 2011

L'art

Dançando sozinho na estação
e largando tudo pra trás
Tocando rock and roll na Paulista
e saindo correndo daquele lugar
Cantando no ponto de ônibus
e indo rápido pra vida
Escrevendo no guardanapo
e podendo finalmente existir.

A Dança - Henri Matisse (1910)


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Academia

Numa sociedade rica os homens não têm a necessidade de trabalhar com as mãos e se dedicam a atividades intelectuais. Existem cada vez mais universidades e cada vez mais estudantes. Para desenrolar seus pergaminhos é preciso que eles encontrem temas de dissertação. Existe um número infinito de temas pois pode-se falar sobre tudo e sobre nada. Pilhas de papel amarelado se acumulam nos arquivos que são mais tristes que os cemitérios porque neles não vamos nem no dia de finados. A cultura desaparece numa multidão de produções, numa avalanche de sinais, na loucura da quantidade. (KUNDERA, 1985, p.108)

Miragens da janela


Entre dois pilares de concreto
voa, sublime
O vento que traz a chuva
também a leva embora

O sol vai brilhar pra fazê-la feliz
nele ela é feliz
O clarão é intermitente
mas há sempre mais luz que escuridão

Sozinha no próprio mundo
que ela pinta aos poucos
de lilás, laranja, rosa, verde e vermelho
transforma o cinza em colores sin dolor
Sonho e realidade são um só
e o universo diz amém

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Lembrando até do que eu não vivi...

Não se sabe se caminham ou se dançam
as mãos passeiam pelos corpos
o vento derrama flores de laranjeira
um beijo

Num universo paralelo
que não pode ser São Paulo
ao mesmo som da música de antes
os dedos entrelaçados

Não existe, mas poderia
os olhos são os mesmos
não falam palavra,
mas se entendem

ela chora no adeus
não nesse mundo...

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Vertigem

Eu poderia dizer que a vertigem é a embriaguez causada pela nossa própria fraqueza. Temos consciência da nossa própria fraqueza mas não queremos resistir a ela e nos abandonar. Embriagamo-nos com nossa própria franqueza, queremos ser mais fracos ainda, queremos desabar em plena rua, à vista de de todos, queremos estar no chão, ainda mais baixo que o chão. (KUNDERA, 1985, p.82)

Relatividade - Escher, 1947.

A Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio embaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda do qual logo nos defendemos aterrorizados. (KUNDERA, 1985, p. 65)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Engatinhando

O carro não é meu, é de uma amiga, está preso no estacionamento. Várias amigas juntas, mas só me lembro de duas. Na tentativa, provoco uma batida. Um carro parado se choca com outro após uma pequena esbarrada minha. Continuo o caminho, cada vez mais difícil, sem me importar com o ocorrido. O dono do carro chega e finjo que não fui eu... Às vezes sou ajudada, às vezes sou co-piloto, mas sempre é difícil e apavorante. Estou presa, não consigo tirar o carro, outras pessoas chegam, mas não ajudam... Termino numa rua larga e tranquila, ali seria fácil dirigir... Mas me encontro em uma bicicleta de criança, pequena, cor-de-rosa e com rodinhas... Só assim chego, enfim, ao meu destino.



Obrigada Consuelo! Fica com Deus...

domingo, 29 de maio de 2011

Miedo

(Lenine)

Tienen miedo del amor y no saber amar. Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz. Tienen miedo de pedir y miedo de callar. Miedo que da miedo del miedo que da.

Tienen miedo de subir y miedo de bajar. Tienen miedo de la noche y miedo del azul. Tienen miedo de escupir y miedo de aguantar. Miedo que da miedo del miedo que da.

El miedo es una sombra que el temor no esquiva. El miedo es una trampa que atrapó al amor. El miedo es la palanca que apagó la vida. El miedo es una grieta que agrandó el dolor. Tenho medo de gente e de solidão. Tenho medo da vida e medo de morrer. Tenho medo de ficar e medo de escapulir. Medo que dá medo do medo que dá.

Tenho medo de acender e medo de apagar. Tenho medo de esperar e medo de partir. Tenho medo de correr e medo de cair. Medo que dá medo do medo que dá. O medo é uma linha que separa o mundo. O medo é uma casa aonde ninguém vai. O medo é como um laço que se aperta em nós. O medo é uma força que não me deixa andar.


Tienen miedo de reir y miedo de llorar. Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser. Tienen miedo de decir y miedo de escuchar. Miedo que da miedo del miedo que da. Tenho medo de parar e medo de avançar. Tenho medo de amarrar e medo de quebrar. Tenho medo de exigir e medo de deixar. Medo que dá medo do medo que dá.


Medo de olhar no fundo. Medo de dobrar a esquina. Medo de ficar no escuro, de passar em branco, de cruzar a linha. Medo de se achar sozinho, de perder a rédea, a pose e o prumo. Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo.


Medo estampado na cara ou escondido no porão. O medo circulando nas veias, ou em rota de colisão. O medo é do Deus ou do demo, é ordem ou é confusão. O medo é medonho, o medo domina, o medo é a medida da indecisão.


Medo de fechar a cara

Medo de encarar

Medo de calar a boca

Medo de escutar

Medo de passar a perna

Medo de cair

Medo de fazer de conta

Medo de dormir

Medo de se arrepender

Medo de deixar por fazer

Medo de se amargurar pelo que não se fez

Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H

Medo de morrer na praia depois de beber o mar

Medo... que dá medo do medo que dá

Medo... que dá medo do medo que dá

Tupi or not tupi, that is the question.

Diante da arte enlatada, do saber-fazer reproduzido, da beleza padronizada, da moral universalizada, perde-se a noção daquilo que é nosso. Nesse abismo de informações dispensáveis e descartáveis falta-nos, muitas vezes, o filtro da personalidade Caraíba. Algo que nos remete ao momento da colonização e faz com que nos sintamos infinitamente colonizáveis e colonizados.

Oswald Andrade, linda e poeticamente, descreve essa sensação e essa necessidade, ha mais de oito décadas, no “Manifesto Antropófago”. Sugere a “lei do antropófago” que é aquele que come, digere, e, assim assimila aquilo que lhe é válido, descartando os dejetos. Na antropofagia, também se é comido, se dá de comer a quem percebe seu valor de nutrição.

Sofremos a todo momento tentativas de catequização nos mais diversos âmbitos, mas podemos enxergar na arte uma maneira de barrar esse colonialismo exacerbado, sem deixar de ser um Abaporu, se alimentando da sabedoria que vem de fora.

“Contra todos os importadores de consciência enlatada” lutamos pela nossa identidade, rememorando criticamente, mas também absorvendo novas idéias, tecnologias, ciência e saberes.

Contra a sociedade burguesa capitalista e seus valores, seus pudores e seus dogmas, contra todos os vegetais, moralistas, babacas, puristas e caretas, fartos “do lirismo comedido, do lirismo bem comportado, do lirismo funcionário público [...]”, também buscamos nossa liberdade. Livres na vida e na arte. Prontos para a transformação do tabu em totem.

Abaporu - Tarsila do Amaral (1928)

terça-feira, 17 de maio de 2011

PASSEIO SOCRÁTICO

Frei Betto

Ao viajar pelo Oriente mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...'. 'Que tanta coisa?', perguntei.. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'

Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!

Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual.. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A palavra hoje é 'entretenimento'. Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, ­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!'

O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor.. Aliás, para uma boa saúde mental, três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.

Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático. Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:´Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!"

domingo, 8 de maio de 2011

Férias!

Rodriguianizando

[...] a mulher normal, equilibrada é capaz de amar 2, 3, 4 ao mesmo tempo.
O amor múltiplo é uma exigência sadia de sua carne e de sua alma. A exclusividade que ela dá, e que o homem exige, representa um equívoco ou pior: um aviltamento progressivo e fatal. Cada minuto de fidelidade significa, assim, um novo desgaste. Há tão pouco amor por isso mesmo: porque o degradam com deveres, com obrigações. Como dever, como obrigação, a fidelidade é uma virtude vil! (RODRIGUES, 1980, p. 162)

Recolhendo...

Recolhendo os cacos, os inteiros, os pedaços. As vidas vividas ou não, criadas, sentidas imaginadas, esperadas. Os sonhos jogados, largados, usados, lavados, vivenciados. As casas, pessoas, caminhos, jornadas, mudanças, histórias. Tudo isso junto e amarrado, pra depois ser separado, analisado, revisado e finalmente transformado.

Mas o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento. (KUNDERA, 1983, p.39)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Desculpa!

Puta que pariu! Quem foi que me fez preocupar tanto com os outros? Quer saber? Fodam-se todos vocês! Eu quero mais é que todo mundo se exploda! Porque na hora de se preocuparem comigo... cadê? E eu aqui feito uma trouxa preocupando com fulano, com ciclano... Ah, meu cú! Ta todo mundo cagando pra mim! A verdade é essa!Vou é colocar a capa da invisibilidade sensitiva e ligar o foda-se para os sentimentos alheios. Quem sabe assim, e finalmente assim, eu vou conseguir a leveza que tanto procuro? Talvez todo o peso que carrego em minhas relações seja, simplesmente, a eterna necessidade de ser “legal” com todo mundo, de não magoar ninguém, de ser “boazinha”. Cada um tem que cuidar de si, se se magoou é problema seu e de mais ninguém!




E mais uma vez eu vou pedir desculpas... Só pra ficar tudo bem...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

No meio da aflição objetiva de sobreviver nesta cidade, neste país, neste planeta, neste tempo – ando também bastante sereno. Acho. Alguma coisa em mim - e pode-se chamar isso de "amadurecimento" ou "encaretamento" ou até mesmo "desilusão" ou "emburrecimento" – simplesmente andou, entendeu? Desisti de achar que o príncipe vai achar o sapatinho (ou sapatão) que perdi nas escadarias. Não sinto mais impulsos amorosos. Posso sentir impulsos afetivos, ou eróticos – mas amorosos, sinceramente, há muito tempo. É estranho, e não me parece falso, mas ao contrário: normal. Era assim que deveria ter sido desde sempre. E não se trata de evitar a dor, é que esse tipo de dor é inútil, é burra, é apego à matéria. Sei lá. Eu não sei se me explico bem. (Caio Fernando Abreu)

Será que tudo aconteceu dentro da minha cabeça?

Nesse jeito romântico de ver as coisas, às vezes me perco no vazio da procura da verdade, de como distinguir o que é real do que é imaginado, criado, inventado, por alguma coisa dentro de mim. Um eu sonhador que cria pessoas, sentimentos e até momentos, que nunca existiram. Pelo menos assim me parece às vezes, quando dou de cara com a realidade depois de muito pensar naquele último sonho. Entre porquês e desculpas, também criadas, me vejo dentro de um mundo só meu, onde ninguém alcança e onde estou sozinha, que é como estamos sempre no fim das contas. Nesse lugar me pergunto se alguma coisa, pelo menos alguma coisinha foi real. Porque é triste ver que tudo não passou de um sonho, imaginação, mesmo quando pareceu tão bonito e real. E ainda assim me afogo em perguntas e milhares de possíveis respostas que me digam o que aconteceu durante todo o tempo em que eu estive nas nuvens. Despenquei de lá de cima e até a dor física da queda eu posso sentir. Doem-me ombros e pescoço. Como se eu tivesse caído de cabeça, mas sobrevivido à queda, com algumas seqüelas, é claro. Seqüelas que se acumulam e me tornam, talvez, um pouco deficiente. Um pouco inapta para realizar certas atividades novamente, do tipo... correr. Talvez agora eu só possa mesmo esperar.