Oswald Andrade, linda e poeticamente, descreve essa sensação e essa necessidade, ha mais de oito décadas, no “Manifesto Antropófago”. Sugere a “lei do antropófago” que é aquele que come, digere, e, assim assimila aquilo que lhe é válido, descartando os dejetos. Na antropofagia, também se é comido, se dá de comer a quem percebe seu valor de nutrição.
Sofremos a todo momento tentativas de catequização nos mais diversos âmbitos, mas podemos enxergar na arte uma maneira de barrar esse colonialismo exacerbado, sem deixar de ser um Abaporu, se alimentando da sabedoria que vem de fora.
“Contra todos os importadores de consciência enlatada” lutamos pela nossa identidade, rememorando criticamente, mas também absorvendo novas idéias, tecnologias, ciência e saberes.
Contra a sociedade burguesa capitalista e seus valores, seus pudores e seus dogmas, contra todos os vegetais, moralistas, babacas, puristas e caretas, fartos “do lirismo comedido, do lirismo bem comportado, do lirismo funcionário público [...]”, também buscamos nossa liberdade. Livres na vida e na arte. Prontos para a transformação do tabu em totem.

Abaporu - Tarsila do Amaral (1928)
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