domingo, 29 de maio de 2011

Miedo

(Lenine)

Tienen miedo del amor y no saber amar. Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz. Tienen miedo de pedir y miedo de callar. Miedo que da miedo del miedo que da.

Tienen miedo de subir y miedo de bajar. Tienen miedo de la noche y miedo del azul. Tienen miedo de escupir y miedo de aguantar. Miedo que da miedo del miedo que da.

El miedo es una sombra que el temor no esquiva. El miedo es una trampa que atrapó al amor. El miedo es la palanca que apagó la vida. El miedo es una grieta que agrandó el dolor. Tenho medo de gente e de solidão. Tenho medo da vida e medo de morrer. Tenho medo de ficar e medo de escapulir. Medo que dá medo do medo que dá.

Tenho medo de acender e medo de apagar. Tenho medo de esperar e medo de partir. Tenho medo de correr e medo de cair. Medo que dá medo do medo que dá. O medo é uma linha que separa o mundo. O medo é uma casa aonde ninguém vai. O medo é como um laço que se aperta em nós. O medo é uma força que não me deixa andar.


Tienen miedo de reir y miedo de llorar. Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser. Tienen miedo de decir y miedo de escuchar. Miedo que da miedo del miedo que da. Tenho medo de parar e medo de avançar. Tenho medo de amarrar e medo de quebrar. Tenho medo de exigir e medo de deixar. Medo que dá medo do medo que dá.


Medo de olhar no fundo. Medo de dobrar a esquina. Medo de ficar no escuro, de passar em branco, de cruzar a linha. Medo de se achar sozinho, de perder a rédea, a pose e o prumo. Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo.


Medo estampado na cara ou escondido no porão. O medo circulando nas veias, ou em rota de colisão. O medo é do Deus ou do demo, é ordem ou é confusão. O medo é medonho, o medo domina, o medo é a medida da indecisão.


Medo de fechar a cara

Medo de encarar

Medo de calar a boca

Medo de escutar

Medo de passar a perna

Medo de cair

Medo de fazer de conta

Medo de dormir

Medo de se arrepender

Medo de deixar por fazer

Medo de se amargurar pelo que não se fez

Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H

Medo de morrer na praia depois de beber o mar

Medo... que dá medo do medo que dá

Medo... que dá medo do medo que dá

Tupi or not tupi, that is the question.

Diante da arte enlatada, do saber-fazer reproduzido, da beleza padronizada, da moral universalizada, perde-se a noção daquilo que é nosso. Nesse abismo de informações dispensáveis e descartáveis falta-nos, muitas vezes, o filtro da personalidade Caraíba. Algo que nos remete ao momento da colonização e faz com que nos sintamos infinitamente colonizáveis e colonizados.

Oswald Andrade, linda e poeticamente, descreve essa sensação e essa necessidade, ha mais de oito décadas, no “Manifesto Antropófago”. Sugere a “lei do antropófago” que é aquele que come, digere, e, assim assimila aquilo que lhe é válido, descartando os dejetos. Na antropofagia, também se é comido, se dá de comer a quem percebe seu valor de nutrição.

Sofremos a todo momento tentativas de catequização nos mais diversos âmbitos, mas podemos enxergar na arte uma maneira de barrar esse colonialismo exacerbado, sem deixar de ser um Abaporu, se alimentando da sabedoria que vem de fora.

“Contra todos os importadores de consciência enlatada” lutamos pela nossa identidade, rememorando criticamente, mas também absorvendo novas idéias, tecnologias, ciência e saberes.

Contra a sociedade burguesa capitalista e seus valores, seus pudores e seus dogmas, contra todos os vegetais, moralistas, babacas, puristas e caretas, fartos “do lirismo comedido, do lirismo bem comportado, do lirismo funcionário público [...]”, também buscamos nossa liberdade. Livres na vida e na arte. Prontos para a transformação do tabu em totem.

Abaporu - Tarsila do Amaral (1928)

terça-feira, 17 de maio de 2011

PASSEIO SOCRÁTICO

Frei Betto

Ao viajar pelo Oriente mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...'. 'Que tanta coisa?', perguntei.. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'

Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!

Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual.. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A palavra hoje é 'entretenimento'. Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, ­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!'

O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor.. Aliás, para uma boa saúde mental, três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.

Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático. Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:´Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!"

domingo, 8 de maio de 2011

Férias!

Rodriguianizando

[...] a mulher normal, equilibrada é capaz de amar 2, 3, 4 ao mesmo tempo.
O amor múltiplo é uma exigência sadia de sua carne e de sua alma. A exclusividade que ela dá, e que o homem exige, representa um equívoco ou pior: um aviltamento progressivo e fatal. Cada minuto de fidelidade significa, assim, um novo desgaste. Há tão pouco amor por isso mesmo: porque o degradam com deveres, com obrigações. Como dever, como obrigação, a fidelidade é uma virtude vil! (RODRIGUES, 1980, p. 162)

Recolhendo...

Recolhendo os cacos, os inteiros, os pedaços. As vidas vividas ou não, criadas, sentidas imaginadas, esperadas. Os sonhos jogados, largados, usados, lavados, vivenciados. As casas, pessoas, caminhos, jornadas, mudanças, histórias. Tudo isso junto e amarrado, pra depois ser separado, analisado, revisado e finalmente transformado.

Mas o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento. (KUNDERA, 1983, p.39)